A motorista Ivone acaba de ser promovida a motorista de um articulado de 21,9 metros de comprimento, que atua na linha 119 da VB1
Bem diz o ditado: ‘Lugar de mulher é onde ela quiser’. E a motorista Ivone Gomes Costa, de 54 anos, acredita muito nisso. Esta semana, ela iniciou uma nova fase de sua história profissional: como motorista de um ônibus articulado do transporte urbano de Campinas. Atualmente, ela é a única mulher na cidade, a dirigir este tipo de veículo tendo uma linha fixa para operar.
E Ivone está exatamente onde escolheu estar: na operação do coletivo de 21,9 metros de comprimento, na linha 119 (Terminal Ouro Verde/ Shopping Dom Pedro), da VB Transportes e Turismo (VB1), concessionária do transporte urbano de Campinas que opera na região 1, que compreende as regiões do Ouro Verde, Vila União e Corredor Amoreiras (linhas azuis claras).
Filha de caminhoneiro, Ivone sempre teve o desejo de aprender a dirigir. Cresceu no Paraná, onde chegou a trabalhar na roça. Veio para Campinas em 2001 e só tirou sua primeira habilitação em 2005, aos 36 anos, já vislumbrando trabalhar como motorista, seu sonho de menina.
Iniciou na profissão como motorista de van escolar e, depois de alguns anos, em 2014, tornou-se motorista de uma van do PAI Serviço – Programa de Acessibilidade Inclusiva da Prefeitura de Campinas, que atende pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, já como funcionária da VB1, a qual foi responsável pelo seu primeiro registro em carteira de trabalho.
Após 5 anos no PAI Serviço, em 2019, Ivone pediu para ser promovida a motorista de ônibus convencional e, este ano, decidiu que já era hora de dirigir um ônibus articulado.
Segundo a motorista Ivone, a experiência como motorista do PAI Serviço foi muito importante para tornar-se uma condutora ainda mais cautelosa e preocupada em evitar os solavancos da direção, pois ela atendia muitos idosos com dificuldade de locomoção e cadeirantes.
“Foi uma experiência maravilhosa. Aprendi a ter mais cuidado e delicadeza com os passageiros e também foi onde aprendi a conhecer a cidade, já que o serviço pode ter uma grande variação de itinerários. Este tipo de trabalho ressalta nosso instinto de proteção, pois tem um público que exige um cuidado a mais”, conta.
Mãe de três filhas e avó de três netos, Ivone é casada com um funcionário da mesma empresa. Ela conta que tem um grande orgulho da profissão que escolheu. E as filhas, que seguem outras profissões, também se orgulham em ter uma mãe motorista de ônibus. “Elas acham maravilhoso eu ser motorista de ônibus e agora, de um articulado”.
Sempre cuidadosa com a aparência e a saúde, Ivone não esquece de levar na bolsa, perfume, maquiagem e filtro solar. “Eu tratei um câncer de pele, reflexo dos tempos em que trabalhei na roça, embaixo de sol forte, e agora nunca saio sem o protetor solar!”, conta.
Ela afirma que não sente preconceito dos colegas por ser uma mulher no volante, mas, confessa que procura dirigir com muito cuidado para evitar erros, pois leva consigo a responsabilidade de ser uma mulher em uma profissão onde a maioria é homem.
“Se um homem comete um erro na direção de um coletivo, pode até passar despercebido, mas, se for uma mulher ao volante, mesmo que o erro seja bem pequeno, parece que as críticas são muito mais pesadas. Por isso sinto essa pressão de não cometer erros e ando muito mais atenta. O bom é que não me estresso, pois faço com amor o meu trabalho”, explica.
Segundo o instrutor de direção da VB1, Reginaldo Cordeiro, mulher é geralmente mais cuidadosa no trânsito. “Os homens arriscam mais, e por conta disso, se envolvem em mais ocorrências no trânsito. Já as mulheres motoristas costumam ser mais cautelosas na direção”, avalia.
Para motoristas profissionais, dirigir um ônibus articulado é um dos degraus mais altos da carreira. É preciso ter habilitação categoria específica, ter histórico de motorista sem ressalvas e passar por treinamento teórico e prático.
A VB1 possui atualmente, 380 motoristas, dentre os quais, 12 são mulheres e 180 são habilitados a dirigir ônibus articulados.