O engenheiro eletricista Carlos José Barreiro assumiu no começo deste ano o cargo de secretário de Transportes de Campinas e presidente da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec). O jornal O Coletivo conversou com ele sobre os seus projetos, entre eles o plano viário da cidade e a extinção do cobrador nos ônibus.
O assunto em pauta no transporte atualmente é a extinção do cobrador dentro dos ônibus. Por que existe essa necessidade e quais os planos de requalificação profissional?
Participei de uma assembleia no Sindicato dos Rodoviários para apresentar o projeto do BRT e, no final, houve um debate e boa parte das perguntas foi sobre a história dos cobradores. No plenário tinha muitos cobradores e a preocupação deles era essa. E a resposta que eu dei para todas as perguntas foi a seguinte: A Emdec entende que a retirada dos cobradores dos ônibus é um processo natural e evolutivo de modernização do sistema de transporte público do município. Ou seja, é inexorável que em algum tempo nós não vamos ter mais nenhum cobrador dentro dos ônibus e é dessa forma que se faz em todos os países de Primeiro Mundo que têm transporte público de qualidade. O sistema nesses lugares, o que vamos implementar aqui, elimina o dinheiro no ônibus. Mas há um compromisso da Emdec com os operadores para que os cobradores sejam reaproveitados em outras funções. O prazo para o projeto ser implantado é até o meio deste ano.
E como será o projeto para a retirada do dinheiro dos ônibus?
Estamos discutindo as melhores soluções técnicas para a implantação do projeto. Precisamos resolver o problema do usuário eventual, aquele que vem com dinheiro, chegou a Campinas agora e vai pegar ônibus na rodoviária. Como ele vai fazer porque só tem o dinheiro no bolso? Além disso, qual a qualificação adicional que os motoristas que vão operar sem cobrador terão? Vamos ver o que será preciso para preparar o motorista a fim de trabalhar na nova configuração. Depois de termos resolvido isso, precisamos programar a implantação do projeto e, concomitantemente, criar oficialmente um programa de requalificação dos cobradores.
Enquanto o BRT não vem, o que o senhor pretende fazer para melhorar a fluidez do transporte público?
Depois que cheguei à Emdec me deparei exatamente com esse problema. A Emdec não dispõe de um Plano Viário, que é, na minha visão, a primeira coisa que um executivo ao chegar aqui deveria fazer. Dois planos estão sendo traçados para resolver o problema do trânsito: o primeiro eu o denomino de Plano Emergencial de Pontos Críticos. Temos medições do volume de veículos por dia nas principais artérias da cidade e, em função do volume, selecionamos os principais pontos críticos. O plano definirá quais são as ações para cada um dos pontos a fim de melhorar a fluidez do trânsito. Prevemos a mudança de mãos de ruas, inversão do fluxo de vias em determinados horários, entre outras medidas, para que a fluidez do trânsito melhore já. Pretendo concluir esse plano em abril e começar a implantá-lo a partir de maio.
Esse plano resolve o problema de Campinas a longo prazo? Não, não resolve. O que resolve é o Plano Viário. Olhamos para a cidade daqui a 20 anos, 30 anos e, por meio de projeções, simulamos cenários com base em premissas que incluem a priorização completa do transporte público em comparação com transporte individual. O BRT é um exemplo no qual teremos diversos corredores, assim como o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). O plano está sendo traçado e vamos buscar financiamento para implementá-lo.
Ele será maciçamente discutido com a opinião pública para que seja o plano da cidade de Campinas, não apenas da Emdec ou do governo.
Existe uma tese equivocada de que a frota de Campinas precisa ser aumentada. Como o senhor vê esses pedidos: de que mais ônibus precisam ser colocados nas ruas, sem resolver o problema do trânsito?
Temos tido muitas reclamações com relação a isso. Qual é a sensação para a pessoa que vê o ônibus lotado ou atrasado? Geralmente, a solução única para essa pessoa é “põe mais ônibus nessa linha ou faz uma linha mais exclusiva para mim”. A Emdec está analisando Campinas como um todo, todos os bairros, todas as linhas, tudo o que temos em termos de planejamento, programação e operação das linhas. As conclusões são as seguintes: existem algumas linhas em que, provavelmente, há excesso de oferta, ou seja, há mais vagas disponíveis do que a demanda, ou melhor, é uma linha que pode ser reprogramada para ser reduzida. Temos também a situação inversa, na qual há menos ofertas do que a demanda. E tem outras linhas que provavelmente não estejam tão bem desenhadas como deveriam.
Não sei se o senhor teve oportunidade de conhecer a região do Jardim Monte Belo, Carlos Gomes e Gargantilha, mas lá os veículos quebram a todo momento e a manutenção chega a ser oito vezes mais cara. Há algum plano para melhorar o viário no local?
Naquela região, a reclamação na Emdec é recorrente e chegamos à conclusão de duas coisas: a qualidade da via pública lá é muito ruim, então fiz uma ação com a Secretaria de Serviços Públicos e conversei com eles umas duas vezes. Foi disponibilizado um engenheiro para atender as necessidades da região até que a satisfação esteja completa. Eu não posso pavimentar as vias, mas podemos fazer muita coisa para melhorar. Não dá para ter melhoria no transporte na região se a via que oferecemos é de péssima qualidade.
O sistema está deficitário e existe um cenário de desequilíbrio financeiro. Dependendo do que for implantado, o desequilíbrio poderá aumentar. O senhor tem algum modelo para equacionar o problema?
É simples a resposta: não é possível pensar que existe mágica, nem aquela história de quem tem almoço de graça. Na vida real, na vida das empresas – e nós somos também uma empresa aqui, que é gestora de um sistema enorme –, é necessário que haja um equacionamento dessas coisas, ou seja, toda vez que o Poder Público decide fazer algum tipo de transformação no sistema atual para um sistema novo, isso implica a geração de novos custos e eventualmente novas receitas. O que tem de ser feito e o que vai ser sempre feito aqui é uma discussão bem aberta e transparente. Quando assumi a secretaria, os jornalistas perguntaram sobre o modelo de gestão que iria implementar. O que eu respondi foi que é preciso ter transparência. Não dá para admitir que o cidadão campineiro, que é quem paga a tarifa, não saiba exatamente como ela é calculada, quais são os custos que compõem o sistema. O segundo ponto é o envolvimento das partes. Temos o mesmo interesse de que o sistema de transporte público funcione bem para que a população campineira seja bem atendida. A diferença é que os operadores são empresas privadas que visam ao lucro e isso é legítimo. Nós somos o Poder Público e queremos que funcione bem mas que haja o lucro, que é inerente ao seu negócio. É assim que funciona em qualquer lugar do mundo. Então, esse conjunto que eu estou chamando de envolvimento é que propicia que essas coisas sejam discutidas claramente. Nós vamos discutir abertamente e eu tenho algumas vantagens: primeiro, sou engenheiro; eu já fiz projetos de diversas naturezas a vida toda. Eu sei fazer contas, sei como se calcula o custo/benefício, a taxa de retorno. Sei o valor correto de tudo isso. Então a conversa vai fluir, não tenho dúvida.